Sol Social tem como objectivo a divulgação de notícias publicadas sobre o concelho da Ponta do Sol. Embora muitos poderiam associar o nome "Sol Social" a algo ligado ao social, ao "mundo vip", a ligação entre estas duas palavras surge de "Ponta do Sol" e de "Comunicação Social". Assim, teremos o Sol Social que pretende recolher informações sobre este concelho... serendipitymg@gmail.com
Thursday, April 10, 2008
Mar de destruição
Jornal da Madeira / 1ª Página / 2008-04-10
Frente-mar da Calheta, Ponta do Sol, Ribeira Brava e Câmara de Lobos fustigada pela forte ondulação de ontem
Mar de destruição
Depois das chuvadas veio a forte ondulação. Por toda a costa sul, as ondas mostraram uma fúria demolidora e imparável, a qual nem mesmo os enrocamentos de protecção foram capazes de deter. A destruição e algumas inundações foram cenários comuns a alguns concelhos. Apesar disso, o fenómeno atraiu a atenção de centenas de curiosos ao longo da costa.
Mar demolidor
As imagens são impressionantes. É usual dizer-se que depois da tempestade vem a bonança. Neste caso, as coisas não foram bem assim. Quando todos começavam a respirar de alívio por ver as chuvas torrenciais que se fizeram sentir anteontem baixarem de intensidade, eis que os ventos quiseram mostrar a sua fúria, causando uma agitação marítima fora do normal e completamente demolidora.
Ontem, o JORNAL da MADEIRA efectuou uma ronda pelos concelhos da zona Oeste (Calheta, Ponta do Sol, Ribeira Brava e Câmara de Lobos), para observar os efeitos do mau tempo e pôde constatar que nestes locais os maiores problemas não tiveram propriamente a ver com as chuvadas de anteontem, mas com a forte ondulação de ontem.
Em qualquer um destes locais, o cenário era ao mesmo tempo assustador e cativante, não fosse o fenómeno da rebentação das ondas ter chamado a atenção de inúmeras pessoas (entre estas muitos turistas) que não quiseram deixar de registar o momento digitalmente.
Na Calheta, o habitual cenário paradisíaco a que a areia amarela já nos havia habituado foi completamente devastado. Ao longo de toda a extensão onde se situava o areal, a destruição era mais do que evidente. A força demolidora do mar era impossível de controlar e as ondas gigantes “estiveram à-vontade” para fazer aquilo que muito bem “quiseram e entenderam”.
Aqui, nem mesmo o molhe de protecção que circunda a praia conseguiu travar a forte ondulação, que deslocou alguns dos quebra-mares e chegou inclusivamente à parede do restaurante situado na rés-do-chão do Hotel Calheta Beach. A areia que restou (dado que muita foi arrastada pelas ondas) ficou completamente coberta de pedras e de lixo, fazendo antever um árduo trabalho de limpeza. Ali ao lado, no Porto de Recreio, a situação não era melhor. As ondas ultrapassavam a muralha com uma altura e uma força tão impressionantes que chegaram a atirar pedras para os jardins que circundam este espaço. Além disso, alguns cabos de amarração foram destruídos.
A magnitude do fenómeno foi tão significativa que o próprio presidente da Câmara Municipal da Calheta disse ao JM não se lembrar de prejuízos tão avultados terem alguma vez ocorrido na frente-mar do concelho. Aliás, de acordo com Manuel Baeta, foi apenas na praia e no porto de recreio que os estragos foram significativos, já que «nas zonas altas não houve situações graves a registar».
O autarca sublinha que «com as condições atmosféricas e com o mar ninguém brinca» e que «não podemos culpabilizar ninguém», pelo que «o que temos de fazer agora é levantar a cabeça e pôr mãos-à-obra para resolvermos os problemas». Ontem ainda era cedo para fazer um balanço aos estragos, até porque era o pior dia em termos de rebentação, mas Manuel Baeta já afiançava que «vamos ter muito trabalho».
De referir também que no Paul e Jardim do Mar a rebentação era igualmente forte, embora sem grandes estragos aparentes, graças à muralha de protecção.
Para regularizar a praia
Câmara vai comprar mais areia amarela
A Câmara Municipal da Calheta vai importar mais areia amarela de Marrocos para colocar na praia.
Manuel Baeta disse ao JM que não é necessário colocar areia todos os anos e que inclusivamente este ano não estava previsto fazê-lo. No entanto, a destruição que se abateu sobre a praia acabou por vir alterar os planos da autarquia. O presidente da edilidade refere que primeiro ainda vai ser analisada a situação e que só depois será possível saber as quantidades de areia que serão necessárias.
Segundo Manuel Baeta, em princípio no lado do hotel não será necessário depositar mais areia, pelo que apenas serão retiradas as pedras. Já no lado da Empresa de Electricidade, a situação está mais complicada, sendo preciso regularizar a zona com mais areia.
Se o estado do mar o permitir, a Câmara deverá colocar máquinas no terreno já hoje. O autarca garante que a praia estará em condições na época balnear.
O vento forte que ontem se fez sentir derrubou várias árvores na zona da Ribeira dos Marinheiros, na Fajã da Ovelha, situação que obrigou ao encerramento momentâneo da estrada regional que liga esta freguesia à Ponta do Pargo. O incidente ocorreu por volta das 10h00, altura em que o presidente da Junta de Freguesia da Fajã da Ovelha, José Luís Sousa, passava pelo local. De imediato, este responsável desencadeou os meios necessários, tendo a estrada sido desobstruída algum tempo depois por alguns populares.
Capela, ETAR, Promenade e rua em frente à Lota
Baixa de Câmara de Lobos sofreu inundações
A baixa da cidade de Câmara de Lobos foi completamente invadida pela água do mar, sofrendo inundações nalguns locais.
Por volta das 17h00, altura em que a nossa equipa de reportagem passou pelo local, a promenade estava inteiramente submersa, assim como a rua que passa em frente à lota e que dá acesso ao cais.
À medida que as ondas embatiam no cais e na Estação de Tratamento de Águas Residuais — ETAR — que foi alvo de violentos embates, a água seguia ao longo da rua em direcção à parte baixa da cidade, chegando inclusivamente à Capela ali situada. Se não fossem os sacos de areia ali colocados, a situação poderia ser bem pior. Mesmo assim, estas barreiras não foram suficientes para vedar por completo a passagem a água.
A situação era de tal modo complicada que algumas das pessoas que se encontravam nos bares da zona baixa, entre elas muitos pescadores, diziam que não tinham memória de uma situação idêntica.
De resto, ao longo de todo litoral, mesmo na Rua da Praia, por cima da promenade, havia pessoas a assistir ao espectáculo, espantadas com tamanha força da natureza.
Mas se uns se mostravam assustados com a fúria das ondas, outros nem por isso. Em plena baía de Câmara de Lobos, no meio de um mar revolto, três jovens aventuravam-se e faziam “bodyboard”, sob o olhar incrédulo de muitos assistentes.
Marginal da Madalena esteve encerrada
Ponta do Sol assistiu à “invasão” impotente
Se houve concelhos onde as ondas mostraram todo o seu poder, a Ponta do Sol foi um puro exemplo.
Entre as 15h00 e as 16h00, ainda a maré estava a encher, a situação já começava a ser alarmante. O mar entrava sem dó nem piedade, submergindo o enrocamento de protecção, sem que ninguém pudesse fazer nada.
Ali, várias dezenas de pessoas assistiam, impotentes, às ameaças do mar. Entre estas, uma destacava-se. O presidente da Câmara Municipal da Ponta do Sol acompanhava o evoluir da situação e, de telemóvel ao ouvido, desenvolvia todos os esforços possíveis para tentar minimizar os efeitos desta intempérie marítima.
Àquela hora, todo o espaço balnear da vila já havia sido completamente engolido pelo mar e o bar de apoio à praia estava no centro das preocupações. Apesar de terem sido colocados sacos de areia e todas as protecções possíveis, não havia nada a fazer senão assistir à entrada violenta do mar e esperar que os estragos não fossem muitos.
À nossa reportagem, o presidente da Câmara mostrou-se bastante preocupado com o evoluir da situação. Segundo Rui Marques, haviam sido colocadas barreiras de areia nas rampas de acesso ao mar nas três freguesias, de modo a evitar que a água entrasse, sendo que o principal receio era exactamente o que poderia vir a acontecer na vila.
Consciente dos possíveis prejuízos que os munícipes ou comerciantes pudessem vir a ter, Rui Marques garantiu que «a Câmara vai tentar apoiar todos os prejudicados».
Por seu turno, o proprietário do bar da praia, Juvenal Silva adiantou que salvou tudo o que podia e esperava, impaciente, que a situação revolta acalmasse. Para este comerciante, que recebeu com agrado a notícia de que a autarquia irá apoiar os prejudicados, há que tomar medidas para prevenir possíveis situações futuras. No seu entender, uma das soluções poderia ser o alargamento do enrocamento e o seu reforço.
Por outro lado, também na Madalena do Mar a situação era preocupante. À hora a que a nossa equipa de reportagem passou pela marginal, um grupo de pescadores olhava para o mar, nervoso e preocupado, adivinhando a aproximação violenta do mar, que já começava a cuspir pedras e água para a estrada.
De referir que, mais tarde, por volta das 18h00, hora em que a ondulação se aproximava do pico máximo previsto, a estrada foi encerrada ao trânsito, de modo a evitar perigos maiores.
No Lugar de Baixo a rebentação era igualmente forte, atraindo a atenção dos muitos que por ali passavam e que paravam para tirar fotografias.
Troncos e folhas de árvores e outros detritos
Praia da Ribeira Brava ficou cheia de lixo
A frente-mar da Ribeira Brava, especialmente junto às piscinas, ficou completamente cheia de lixo.
A folhagem e os troncos de árvores que foram arrastados ao longo da ribeira acabaram por ser atirados pelas ondas para o calhau. Também ali, a forte ondulação provocava efeitos visuais espectaculares, à medida que embatia no enrocamento que protege a vila, os quais foram presenciados por dezenas de curiosos.
De referir que a fúria do mar causou estragos consideráveis no complexo balnear da vila, para não falar dos danos que, como referimos ontem, foram causados no Calhau da Lapa, no Campanário.
Além disso, e segundo as declarações do presidente da autarquia local à Rádio Jornal da Madeira, o mau tempo provocou quedas de árvores, estragos nos pavimentos em diversas estradas do concelho, bem como destruiu algumas produções agrícolas.
Ricardo Caldeira
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