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Wednesday, August 22, 2007
Revolta perpetuada
Jornal da Madeira / Região / 2007-08-22
Foi inaugurado na Lombada um monumento em honra de quem lutou pela água
Revolta perpetuada
Para assinalar os 45 anos da revolta da água na Lombada da Ponta do Sol foi ontem celebrada uma missa e inaugurada uma escultura em homenagem aos homens e mulheres que enfrentaram o Estado, que se queria apoderar da água de rega que corria na Levada dos Moinhos.
Fez ontem 45 anos em que os populares do sítio da Lombada, na Ponta do Sol, enfrentaram mais de 200 polícias por causa da água de rega e que resultou em um morto e muitos feridos.
Para assinalar a data, Gabriela Relva, irmã da Sãozinha, que faleceu durante o tiroteio, mandou celebrar ontem uma missa na igreja da Lombada, sendo que logo depois foi inaugurada uma escultura, perpetuando assim a revolta da água.
Mas, para explicar a razão da revolta dos populares há que recuar ainda mais no tempo. O Estado comprou as terras da Lombada de forma directa aos colonos que depois as vendeu aos moradores da Lombada, que as foram pagando durante 20 anos. O contrato de venda, além das parcelas incluia também a água de rega. Os problemas começaram quando o Estado exigiu aos compradores o pagamento da água, pouco tempo faltava para concluir a dívida para com o Estado.
Os populares recusaram-se e a crispação acentuou-se em 1962, quando começaram a fazer frente ao Estado, fazendo vigílias para gerir a água.
Gabriela Relva explicou que entre Maio e Agosto houve muitas pessoas presas. Aquela moradora na Lombada recorda que «num dia em Junho foram 12 pessoas presas, 7 mulheres e 5 homens para a Rua do Carmo, entretanto houve mais prisões, até Agosto».
Gabriela Relva emociona-se a relatar o dia 21 de Agosto de 1962, dia em que perdeu a sua irmã Conceição Gonçalves que na altura tinha 17 anos. «O dia 21 de Agosto realmente foi o dia do grande massacre, mais de 200 polícias de madrugada atravessaram a levada do lado contrário, do lado das Terças, cercaram a zona e entretanto as pessoas dirigiram-se para o local». «O comandante deu ordem para que as pessoas saissem imediatamente do cabo da levada e deu ordem de fogo. Começaram a atirar para todos os lados, feriram muita gente, a Sãozinha foi assassinada», lamentou. As pessoas que ficaram feridas, à medida que iam saindo do hospital iam para a prisão, onde ficaram mais de três meses sem julgamento. Foram massacradas e amaçadas de serem levadas para a prisão do Tarrafal.
Presente na homenagem a título pessoal, o presiden da autarquia da Ponta do Sol, Rui Marques, disse que a escultura ontem inaugurada simboliza o «sofrimento de longos meses em que os populares tiveram que se deslocar durante cinco quilómetros, até ao cabo da levada, onde passaram muitas noites sem dormir para proteger o que eles achavam que era do seu interesse e que era fundamental para os seus terrenos».
Marília Dantas
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