Monday, April 02, 2007

Teatro valoriza poesia de Pessoa

Élvio Camacho e Paula Erra, do TEF, protagonizam a peça que hoje é apresentada na Ponta do Sol.


in DN a 31-03-2007

Cultura e espectáculos

Teatro valoriza poesia de Pessoa


Antes de o pano subir esta noite, às 21 horas, no auditório do Centro Cultural John dos Passos, para a apresentação da peça 'Mééééé... Tudo é como é', do Teatro Experimental do Funchal (TEF), falámos com Élvio Camacho, actor que, ao lado de Paula Erra, protagoniza este espectáculo inserido no âmbito do Município da Cultura na Ponta do Sol.

"Uma vez que 90% do espectáculo é constituído pela poesia, quase integral, de Alberto Caeiro [heterónimo de Fernando Pessoa], é difícil resumir a sua essência", começou por explicar Élvio Camacho. "Mas eu e a Paula Erra cremos que, ao colocar as palavras de Caeiro na boca de dois pastores, estamos a destacar a grandeza de seres aparentemente ignorantes, que nos surpreendem momento a momento com os seus pensamentos e falas, mesmo quando um dos pastores nos diz que, citando Caeiro, 'queria ter o tempo e o sossego suficientes para não pensar em coisa nenhuma'." A sinopse do espectáculo dá bem conta do substrato narrativo da peça: dois pastores, desembarcados num arraial, guardam um bazar, rebanhos e poesia. "Realçaria também o interlúdio do espectáculo que nos dá a conhecer, através de um vídeo filmado no norte da Madeira [Santana], um texto em prosa de Fernando Pessoa, muito pouco conhecido pelo público em geral e escrito no feminino, estou a falar de Maria José: Metáfora de uma Alma à Janela, [A Carta da Corcunda para o Serralheiro]." Tudo isto se insere "na aposta do TEF em construir espectáculos comunicantes para o grande público, nos quais as fontes de erudição intelectual invocadas não sejam antónimas de um sentido teatral de divertimento cénico gerado pelos e para os dias de hoje; e, ao mesmo tempo, que este divertimento acentue a consistência da interpelação crítica e reflexiva".

Adianta que, de uma maneira global, as reacções do público são favoráveis, e dá um exemplo: "Na Bienal de São Vicente, onde, a convite da Câmara Municipal, apresentámos o espectáculo ao público em geral, que encheu a sala, tivemos um convidado especial, sobrinho de Fernando Pessoa, o Dr. Rosa Dias, que nos disse muito comovido, após o espectáculo, ter tido a certeza que o tio esteve presente naquela sala".


João Filipe Pestana

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