Câmaras preferem empresas da "casa" na contratação de obras públicas
Três dezenas de sociedades, cada uma no seu concelho, têm primazia nos concursos limitados de obras
in DN a 08-08-2006
Quando uma câmara municipal da Madeira pretende atribuir uma obra pública, uma das condições principais (senão mesmo a principal) que tem em conta é a origem das empresas ou dos empresários que a ela se candidatam. Se for natural do concelho, ganha logo vantagem à partida. Pelo menos é isso que se pode concluir a partir da lista de empreitadas entregues em 2004 e 2005. Há cerca de três dezenas de empresas que apenas fazem obras dentro dos seus concelhos.
Apesar da exiguidade do território regional e da melhoria da rede de estradas, parece haver uma fronteira física entre cada concelho que impede uma empresa de fora de entrar nos negócios do município. O fenómeno é constatável em todo o arquipélago. Dois dos exemplos mais expressivos vêm de Câmara de Lobos. As empresas "José Avelino Pinto & Filhos Lda." e "Perneta Construções SA", dirigidas por empresários do Estreito, conseguiram, respectivamente, 5,6 milhões e 2,6 milhões de euros respeitantes a um total de 33 obras no concelho. Na Ribeira Brava, as obras feitas em concurso limitado foram quase todas para a "Nascimento & Nascimento, Lda." (9) e a "Construções do Campanário, Lda." (3). Na Ponta do Sol, a mesma situação com outros protagonistas: "Solicanhas" (9 obras) e "Irmãos Leça de Freitas, Lda." (6). Na Calheta, os ajustes directos e concursos limitados beneficiam as empresas "Paulo Gouveia & Irmãos" (4 obras), "Arlindo Serrão & Coelho - Construções Lda." (6) e "Somuros" (3).
SANTA CRUZ NÃO REVELA DADOS
Já na costa Norte, no Porto Moniz, "manda" a empresa "Construções Costa & Damião" (13 obras), embora neste concelho se constate uma maior distribuição de trabalhos por várias sociedades. Das onze empreitadas promovidas pela Câmara de S. Vicente, quatro foram atribuídas à "Sociedade de Empreiteiros do Norte da Madeira". Em Santana, destaque para a "Júlio Inácio Fernandes, Filhos Lda." (5 obras) e a "J. C. F. - Construções de Santana" (6). Em Machico, a "Construções Miguel Viveiros II" (6 obras) tem primazia. Os dados de Santa Cruz não estão disponíveis, visto que a Câmara liderada por Savino Correia (até 2005) e por José Alberto Gonçalves (actual presidente) é a única da Madeira que não cumpre a obrigação legal de publicação das suas empreitadas. No Porto Santo, ganham relevo os trabalhos da "Farrobo Sociedade de Construções" e da "Teodoro Gomes Alho & Filhos".
Também há empresas que se dedicam praticamente em exclusivo à Câmara do Funchal, onde ganham os contratos de ajuste directo ou concurso limitado. São os casos de: "Sales, Faria & Andrade" (18 obras), "RIM - Construções Madeirenses" (7) e "Damásio & Nascimento" (6 obras). De registar ainda o elevado volume de obras da responsabilidade da "Edimade" (18, no valor de 4,2 milhões de euros). Curiosamente, esta empresa também desenvolve obras em Santa Cruz e no Porto Santo, mas promovidas pelo Governo.
UMA EXCEPÇÃO CHAMADA "SILVA BRANDÃO"
Deste rol das relações privilegiadas com determinados concelhos foram excluídos os gigantes da construção. Empresas como "Avelino Farinha & Agrela", "Tâmega", "Somague" ou "Tecnovia" ganham as maiores empreitadas promovidas nas edilidades mas têm uma actuação de âmbito regional e não concelhio. Por outro lado, entre as pequenas e médias empresas que concorrem às obras municipais, o DIÁRIO apenas encontrou um caso de acção regional: a "Silva Brandão & Filhos" participou em oito obras distribuídas por sete concelhos. É a excepção que confirma a regra.
Por fim, assinale-se que o facto de as câmaras privilegiarem as empresas locais nos seus processos de contratação pode ser encarado numa perspectiva positiva, como uma forma de estimular a economia concelhia. Mas fica a dúvida se são salvaguardados outros princípios que devem nortear a actuação da administração pública, tais como a necessidade de encontrar o preço mais vantajoso para uma obra e a empresa melhor qualificada para a realizar...
Miguel Fernandes Luís
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