Thursday, July 13, 2006

Julgamento (cont.)

Várias testemunhas falaram ontem do modo como agia o antigo presidente

«Personalidade forte»

O comportamento do antigo presidente da Câmara Municipal da Ponta do Sol, que responde por 11 crimes no Tribunal da Ponta do Sol, esteve na sessão de julgamento de ontem em evidência. Uma testemunha disse que Lobo chegou a dar-lhe um «empuxão».


Várias testemunhas arroladas pelas defesas da arquitecta Deolinda e do fiscal João Silva estiveram ontem a falar do carácter dos dois arguidos, mas também da personalidade de António Lobo na altura em que presidia à Câmara Municipal da Ponta do Sol.

O que dos depoimentos de algumas das nove testemunhas sobressaiu, ontem durante mais uma sessão de julgamento do caso de alegada corrupção na Câmara Municipal da Ponta do Sol, foi a forma como classificaram a personalidade do antigo edil: «No mínimo, forte», disse a chefe da secção de obras da Câmara, Susana Paulo. Esta testemunha, funcionária da Câmara há 19 anos, declarou que o comportamento de António Lobo mudou nos seus últimos dois mandatos. Antes, «era normal», depois tornou-se «forte».

Susana Paulo recordou alguns episódios do antigo presidente para demonstrar o que dizia. Num dia, no gabinete presidencial, António Lobo ter-lhe-á dito que quem mandava na câmara era ele, que ele era a lei. Noutro momento, Lobo ter-lhe-á dado um «empuxão». Nesse dia, Lobo estaria chateado com Susana Paulo por esta não ter escrito um número de telefone num processo. Aborrecido, e querendo passar por uma porta onde a funcionária estaria, tê-la-á «puxado» por um braço.

Depois de ter referido que Lobo era «quem controlava tudo» na Câmara, disse que ouviu o antigo presidente afirmar, num momento em que estava chateado com os fiscais, que os «ia deitar na serra».

Outra testemunha, Ana Cristina Álvaro, funcionária da Câmara, também falou do comportamento de Lobo, afirmando que na época ninguém se atrevia a chamar o presidente à atenção e que alguns funcionários se queixavam de que Lobo os tinha ameaçado de pôr na rua, sendo o fiscal um dos queixosos.

De resto, as testemunhas evidenciaram as qualidades da arquitecta Deolinda e do fiscal. Para as testemunhas, ambos eram «honestos», «bem-educados», «competentes» e incapazes de receber dinheiro ilícito.

Resta referir que, no final da sessão, e em conversa com os jornalistas, o advogado Arnaldo Matos disse que, afinal, não foi a Timor na última semana, pois o procurador geral da República de Timor-Leste decidiu adiar a inquirição de Mari Alkatiri. Assim, a viagem deverá ocorrer entre 15 e 25 de Julho, sendo que Matos deverá primeiro ir a Macau, onde falará com dois advogados macaenses adstritos à defesa.

Sobre o assunto que o leva a Timor, Arnaldo Matos apenas referiu que «não há nenhuma ligação» de Alkatiri com as questões do armamento de civis ou com esquadrões de morte. A inquirição do antigo primeiro-ministro está marcada para o dia 20 deste mês.

Alberto Pita

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