Monday, September 11, 2006

«Prefiro evitar confrontos políticos»

a outra face
RuiMarques, quase 30anos, presidente da Ponta doSol. Tem como missão servir a população, garante. E após um ano confessa que ainda não se habituou a separar as águas entre os níveis político e pessoal.Por isso, prefere evitar confrontos...

Patrícia Cassaca (texto)
Miguel Nóbrega (fotos)
in Notícias da Madeira a 07-09-2006

A senhora, já com uma certa idade, queria à força «dar um abraço ao senhor presidente». Muito educada e insistente, mas sem ser chata, ia fazendo saber que a penas queria cumprimentá-lo, «não é para mais nada, é só para dar-lhe os parabéns». Disseram-lhe que o presidente estava ocupado; a senhora foi resolver assuntos que tinha pendentes na câmara e voltou depois par a cumprir a missão. O autarca acabou o que estava a fazer e atendeu-a. A conversa foi bem curta, como tinha sido prometido, e a senhora saiu satisfeita, pois tinha afinal feito saber que aprovava o trabalho que o jovem vem realizando. É assim que Rui

Marques, a pouco tempo de celebrar o 30 .º aniversário, parece ser tr atado pelos munícipes, sobretudo pelos mais velhos: Com um misto de condescendência e admiração.

Rui Marques, casado, natural e residente na Ponta do Sol, faz 30 a nos este mês e gosta de p assear e de esta r com os amigos .
Tem ficado pelo concelho, pouco tem saído, e só no início de Agosto pôde descansar uns dias fora, a pós mais de um ano d e trabalho.

É presidente da câmara e ainda se está a habituar ao facto. O seu propósito é, diz, servir a população , e irrita-se com a oposição, confessando alguma dificuldade em “separar as águas”, daí preferir evitar confrontos...

Ponta de Sol, Outubro de 2005.
Quase empurrado para a presidência da Câmara da Ponta do Sol, fruto do escândalo que mandou o anterior autarca para trás das grades, Rui Marques ainda está a habituar-se a estas andanças da política. Fomos encontrá-lo ao fim da manhã de mais um dia daqueles em que se calhar só ir ia abandonar as instalações lá mais para as sete ou oito horas. Confessa que é sempre assim, raramente consegue sair antes. Afinal, «ainda estou em fase de habituação».

É o presidente de câmara mais jovem de que há memória na Região e, antes desta aventura, a política, para ele, resumia-se ao que acompanhava n a comunicação social. Mas de repente, a partir do momento em que deu o “sim” ao convite do PSD, os holofotes viraram-se para ele. A sua inexperiência em termos de campanha revelou-se
sem qualquer complacência, mas mesmo assim conseguiu derrotar os seus adversários, protegido, é certo, por uma máquina partidária bem oleada.

QUANDO ENTROU NA CÂMARA, OU OPTAVA POR
ORGANIZAR AS QUESTÕES LIGADAS AO URBANISMO, OU AO PDM. DEU ATENÇÃO AO URBANISMO.
O PDM JÁ VEM A CAMINHO...

No próximo mês de Outubro, completa um ano à frente dos destinos do município. E para já a sua luta tem um nome: Plano Director
Municipal (PDM). Foi este o documento da polémica, aquele que levantou tantas questões, aquando do início do julgamento de António Lobo, e que tem causado verdadeiras revoluções nas autarquias
regionais.

O PDM da Ponta do Sol ainda está um pouco longe de ser concluído, mas Rui Marques tinha duas escolhas: Ou focava atenções no urbanismo, que estava muito desorganizado, diz, ou no PDM. Deu prioridade à organização, mas disso falam os a seu tempo...

Da engenharia à política.
Antes de entrar na vida política activa, Rui Marques foi mais um dos estudantes que engrossou as fileiras da Universidade de Coimbra. Estudou para engenheiro civil e exerceu, durante quatro meses, no continente. Surgiu-lhe depois uma hipótese na Secretaria do Equipamento Social. Estava a trabalhar há cerca de dois anos e meio
quando «apareceu esta oportunidade de estar à f rente dos destinos do concelho».

Com um sorriso repentino, confessa : «Foi algo que me custou inicialmente, mas depois fui tendo apoio de várias pessoas , que me incentivaram e que me deram força. E cá estou eu».

Nunca pensei que pudesse ser convidado para um cargo tão
importante.”


Quando recebeu o convite, «fiquei um pouco assustado. Parecia que estava... Nem sei encontrar o t ermo adequado. Nunca pensei que pudesse ser convidado para um cargo tão importante. E também com muita responsabilidade».
Na altura, deram-lhe um prazo curto (embora garanta que não foi pressionado) para tomar a decisão que i ria dar revolucionar a
sua vida. «Preparei-me para desempenhar funções na engenharia civil e entrar no mundo da política era uma volta de 180 graus.» Um mundo onde «nunca tinha estado. Tinha participado em comícios e estive sempre um pouco atento, principalmente à política regional, mas nunca tinha estado em campanhas e não estava dentro do que
é o sistema político».

Preparei-me para desempenhar funções na engenharia civil e entrar no mundo da política era uma volta de 180 graus.”

Mas afinal o que o fez aceitar a proposta? Rui Marques garante que «foi o desafio. É um desafio aliciante, estar à frente dos destinos do concelho era algo que gostaria de experimentar, fazer algo pela população. E também foi muito determinante o a poio que tive».

Não se livrou de comentários relativos à sua idade... «Claro que havia aquela desconfiança... Será que um rapaz tão novo tem capa cidade para estar a assumir uma responsabilidade tão grande... ?»
Havia ainda o ónus de se candidatar após a polémica que envolveu António Lobo. Sobre isto, refere que «não se deve confundir as pessoas com o parti do, e às vezes existe alguma dificuldade em separar».
Para Rui Marques, uma das maiores desvantagens da candidatura foi o facto d e estar a concorrer contra um candidato mais experiente, «além de não ser a primeira vez, ele era deputado regional e isso complica porque a sua profissão permitia ter um conhecimento mais aprofundado da realidade do concelho e também das pessoas . Tive de fazer um trabalho de campo com muita dedicação, porque era um perfeito desconhecido.

Só era conhecido na zona onde morava. Os colegas que andaram
comigo na escola também me conheciam mas ao nível geral era desconhecido».

Falta de técnicos. Rui Marques venceu a primeira batalha, que foi lidar com o mundo novo das campanhas políticas, mas agora tem outra em mãos. E problemas não faltam. «Nunca é demais referir:
Temos o julgamento do anterior presidente, que nos te m complicado
um pouco a tarefa». É que sempre que há julgamento, ou são necessários testemunhos de funcionários da câmara, ou é necessário reunir documentação, «e como é tudo para ontem e temos que satisfazer esses pedidos...».

Temos dois arquitectos e um fiscal que foram suspensos, continuam a ocupar as vagas do quadro e continuam a receber ordenado. Mesmo que queiramos contratar outros técnicos, não podemos.”

Outro dos problemas com o qual a câmara continua a debater-se é
Com a falta de técnicos. «Temos dois arquitectos e um fiscal que foram suspensos, continuam a ocupar as vagas do quadro da câmara e continuam a receber ordenado. Mesmo que queiramos contratar outros técnicos, não podemos», também fruto de não ser possível, por lei, ultrapassar determinado s valores.

Pedidos frequentes. O facto de as autarquias estarem limitadas do ponto de vista financeiro condiciona o trabalho das mesmas, como costuma ser ampla mente referido. No caso da Ponta do Sol, acontece o mes mo. O dinheiro que existe está a ser canalizado para a construção de estradas, sobretudo a partir da realização de contratos programa.

As vias de circulação são, aliás, a grande preocupação da população, segundo afiançou Rui Marques. O alargamento de veredas é o assunto predilecto da população, sobretudo quando faz o seu périplo pelas diversas freguesias. «As grandes obras, as grandes vias, estão feitas; as estradas principais também, tirando uma ou outra que é necessário e que fizeram parte, aliás, do meu manifesto eleitoral, mas de resto o que as pessoas estão a pedir é o alargamento de veredas. Qualquer casal tem o seu carro e é natural que queiram levar o carro até casa.»

Rui Marques vai fazendo o que pode, até porque, segundo garante,
o seu grande objectivo é dar resposta às necessidades da população, daí o trabalho que está a desenvolver no que diz respeito às questões do urbanismo.
Explicou que a câmara criou recentemente um regulamento que funciona como uma espécie de prolongamento do PRID (programa que ajuda na recuperação de casas mais degradadas) e vem colmatar os muitos pedidos que têm dado entrada na Investimentos
Habitacionais d a Madeira (IHM).

As zonas altas do concelho são as mais afectadas com a ausência de condições nas habitações. «Temos ali muita carência. Por acaso não fazia ideia. S ó estando no terreno, só visitando caso a caso é que nos apercebemos das dificuldades com que as pessoas ainda vivem.» Com este regulamento, «não podemos acudir toda gente mas vamos ajudando algumas pessoas e já vamos aliviando um pouco a lista que temos relativamente às candidaturas ao Instituto de Habitação».

Regulamento
A câmara criou um novo instrumento que vai permitir evitar muita burocracia e consequentes custos elevados para a simples construção de mais um quarto em casa...

Fã de regulamentos, Rui Marques tem nestes um instrumento que pretende evitar também alguma burocracia.
É o caso de um que foi criado para evitar as burocracias de pedidos de pequenas ampliações nas casas – «alguma garagem, uma sala, uma cozinha, uma casa de banho, ou seja, são pequenas construções que com uma pequena planta conseguimos resolver o problema mas que neste momento, como as coisas estão, é preciso entregar» uma série de documentos que acaba por representar muitos encargos para as pessoas.
Com o n ovo regulamento, há a garantia de que essa burocracia e consequentes encargos vão ser diminuídos.

Futuro. Para o futuro, «projectos não faltam, faltam é verbas», diz Rui
Marques, embora reitere que as grandes obras na Ponta do Sol estão feitas. Com as novas vias feitas e a proximidade dos concelhos limítrofe s e da capital madeirense, a procura de casa no concelho tem aumentado, disse ainda o autarca, que está convicto de que com o alargamento da vila para Norte essa procura vai aumentar ainda mais, até porque estão já previstos muitos investimentos na área da habitação.

Sempre o PDM... E a julgar pelas palavras de Rui Marques gente para investir não falta, o problema é mesmo o PDM. «Há muitos empresários que querem investir aqui no concelho só que estão a aguardar pelo PDM, e é uma necessidade, digo desde já.»

Investimento
Gente para investir não falta, mas enquanto o PDM não for
revisto, nada feito...
Antes de iniciar a revisão d aquele plano – «que era e continua ser uma das minhas prioridades» – viu-se perante a contingência de ter de decidir entre dois caminhos: Ou concentrava a atenção no gabinete técnico e «punha a câmara, ao nível do urbanismo, a funcionar normalmente e com mais tempo, com a situação já estabilizada, e depois voltava a minha atenção para a revisão, que é o que estamos a fazer neste momento», ou partia directamente para a revisão do PDM sem ter a câmara organizada.

O primeiro caminho foi o melhor que escolheu, disso Rui Marques não tem dúvidas, apesar de o PDM ser esta uma das principais armas dos seus opositores no concelho.

Para a revisão do documento, a “prata da casa” tem dado uma ajuda preciosa, assim como uma arquitecta cedida pela Secretaria do Equipamento Social, que está temporariamente na câmara, e um outro profissional da mesma área que está em estágio profissional.

Com a ajuda destes dois técnicos, as coisas vão andando, à custa de muitas horas de trabalho.
«Pretendo ter o relatório que é necessário para a revisão do PDM pronto em início de Outubro. A partir daí, abre-se o processo para a revisão.»

Penso que o (PDM) de agora vai ser mais realista.”
Só lamenta que agora «toda a gente perceba de PDM’s. .», referindo-se às críticas frequentes da oposição. Na altura em que foi feito, «com erros», reconhece, foi o possível. «Penso que o de agora vai ser mais realista e mais de acordo com as necessidades do concelho.»
Depois de pronto, o PDM vai então permitir o investimento privado, algum no âmbito de turismo – turismo rural e estalagens – e outro mais relacionado com habitação.

Futuro político. E o futuro o que reserva a Rui Marques? Seja por cautela ou por convicção, a verdade é que o jovem autarca não está ainda numa fase em que diga peremptoriamente “deixem-me ir embora”. «Ainda é muito cedo...»
Remete, por isso, uma resposta à sua continuidade na política para o penúltimo ano de mandato. Diz, a propósito, que só vai admitir a hipótese de recandidatar-se se tiver cumprido os objectivos a que se propôs e se o par tido o quiser. Mas deixa claro: Está na política e aceitou o desafio porque queria poder fazer algo pela população e não para servir outro tipo de interesses... «Quando falta r um ano, penso que vou estar em condições, com certeza, de dizer se continuo.
Mas isto não depende só de mim.

No que me diz respeito, se eu achar que tenho condições para continuar, dirijo-me ao dr. Alberto João Jardim e digo: “Se for da sua vontade, pode conta r comigo”. Mas isso vai depender de muita coisa.
Gosto de assumir um cargo mas ter a certeza de que as pessoas me querem cá... »

A gravata e a oposição...
Mas para além de todo o trabalho que teve de aprender a desenvolver
na câmara (embora com a ajuda de todo o pessoal, «do mais alto ao mais pequeno», sublinha), teve também de aprender a lidar com coisas mais ... prosaicas . Foi o caso do fato e gravata. Entre risos,
pega na gravata e diz, com alguma pena, «que tive de me habituar a
isto!». Virado para um estilo mais casual, cedo aprendeu que há
ocasiões em que precisa mesmo de vestir-se a preceito.
Outra das “espinhas” difíceis vai sendo «entrar naquele ritmo que é
exigido» e que se prende com os discursos a que o cargo que ocupa
obriga de quando em vez. «Isto de subir ao palco, pegar no microfone e falar, não sei se uma pessoa se habitua...

Ainda me faz um bocadinho de confusão. Estar a pensar o que vou dizer e depois ver como saiu, a ver se saiu bem... Essa parte ainda
me faz um pouco de confusão».

Há que vestir o fato de político e depois separar o que é a política do que é pessoal.”Mas a “cereja em cima do bolo” é mesmo a oposição. Com um suspiro, confessa: «Devo dizer que de início custou-me um bocadinho. Porque há que vestir o fato de político e depois separar o que é a política do que é pessoal. E isso fazia-me confusão porque eu levava algumas atitudes um bocadinho para a parte pessoal.

Agora perdi um pouco isso. É o trabalho deles...». Mesmo sabendo que é esse o papel que lhes compete, não concorda como que dizem nem como o fazem.

«Mas eles dizem-me mesmo isso: “Faz o teu trabalho que nós fazemos o nosso. O nosso trabalho é chamar-te a atenção” , mas por vezes custa...».

De qualquer maneira, Rui Marques tem consciência de que tem de
«aprender a não abrir o jogo todo», pois muitas vezes, diz, o que transmite aos membros da oposição acaba por ser aproveitado para as conferências de imprensa para criticar. As questões relacionadas com o PDM são exemplo disso, referiu. Por isso, diz, «é um aproveitamento d a situação e é querer ter algum protagonismo.

Mas é assim a política deles, é assim que trabalham. É uma política de protagonismo, mas pronto...».Ainda assim, a relação ao nível político mantém-se «cordial». «Ao nível pessoal, não tenho nenhum problema com nenhum deles.»

Tento evitar a parte das discussões.”Por ainda lhe ser difícil se parar as águas, «tento evitar a parte das discussões. Como não consigo Por ainda lhe ser difícil se parar as
águas, «tento evitar a parte das discussões.

Como não consigo lidar muito com essa parte de se parar o nível político do pessoal, prefiro evitar os confrontos políticos. Pelo menos
tenho tentado evitar até agora...Para mim, a política é servira população».




«Uma grande pessoa»
O secretário regional do Ambiente, Manuel António Correia, optou por distinguir dois planos, no que diz respeito a Rui Marques: O pessoal e o político, «embora os dois acabem por se cruzar, porque não acredito que se possa ser bom político se não se tiver boa formação pessoal de base». Do ponto de vista pessoal, destaca a boa educação, «é uma pessoa que se nota que teve uma formação de base muito grande, que vem, se calhar, da profissão dos pais, que são professores.

Valoriza a família, e nota-se isso no relacionamento com os pais e com a família mais recente, e é um aspecto a que sou muito sensível, porque também valorizo muito». O governante destacou ainda a lealdade «e uma pureza positiva muito grande». É por isso que «tem todos os alicerces pessoais para ser, para além da grande pessoa que já é, um grande político». Do ponto de vista político, «naturalmente que tem muito para crescer, mas te m o potencial necessário. E isso não é desvantagem, porque é muito novo ainda, t em já os valores das novas gerações, mas tem a aptidão, inclusive técnica, para levar para a frente a câmara». E embora reconheça que os desafios que se colocam hoje em dia à gestão pública são muito complexos, a diversos níveis, «ele tem essa preparação e juntamente com a sua equipa certamente fará um excelente trabalho».

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