Monday, January 29, 2007

“Este concelho está a ficar para trás”


“Este concelho está a ficar para trás”

Ponta do Sol sente-se marginalizada a Oeste da ilha da Madeira

in Tribuna da Madeira, a 26-01-2007

Por: RICARDO SOARES




A Ponta do Sol tem potencialidades em vários sectores, Mas, pelas mais variadas razões, é um concelho que se sente um pouco à margem do desenvolvimento e progresso que tem atingido outras zonas da ilha da Madeira. O momento é de expectativa em relação ao futuro.

Expectantes. É desta forma que se pode caracterizar o actual estado de espírito dos pontassolenses. O concelho tem sido ao longo dos anos - tal como contece um pouco por toda a ilha da Madeira - alvo de avultados investimentos por parte do Governo Regional (GR), em nome próprio ou através das Sociedades de Desenvolvimento. Mas a Ponta do Sol é um caso especial, com vastos motivos para estar constantemente sob os holofotes mediáticos da polémica.

Se as obras públicas são por norma consideradas benéficas, neste concelho a Oeste da Madeira nem todas são motivo de orgulho. As críticas têm destino e apontam num único sentido.

“A Câmara não tem culpas na marina do Lugar de Baixo. É lamentável que o GR tenha gasto tanto dinheiro naquela infra-estrutura, que neste momento não serve para nada”, destaca um morador.

A marina, fustigada por intempéries e imprópria para satisfazer os objectivos a que estava destinada, apresenta aspecto desolador. Sem comércio, pessoas ou embarcações, tornou-se espaço para pescadores sempre preocupados com a multa e pista de atletismo para os finais de tarde. Existem obras de beneficiação previstas, mas enquanto não estão garantidas todas as condições de operacionalidade, pouco mais os pontassolenses podem fazer que lamentar os erros do passado.

“Não quero ser pessimista, mas, neste momento, não se vislumbram grandes melhorias no futuro do concelho. E explico porquê: independentemente das infraestruturas criadas, que eram para trazer mais investimento, fixar pessoas e garantir postos de trabalho, está provado que isso não aconteceu”, considera José Manuel Coelho, vereador socialista na autarquia e deputado regional. “Depois temos um Plano Director Municipal (PDM), o primeiro dos concelhos rurais a ser aprovado, que está completamente desactualizado, com problemas infinitos que estão a paralizar todo o desenvolvimento”, justifica.

O deputado vai mais longe: de facto, não considera que o concelho tenha sido fortemente beneficiado com o advento dos grandes investimentos públicos regionais.

“A Ponta do Sol ficou a perder e muito. Se verificarmos o programa de investimentos do Governo, verificamos que este é o concelho que tem menor percentagem de investimento. O presidente do Governo disse, aquando da sua passagem pelas autarquias para acertar o programa de investimentos para este ano, que a Ponta do Sol tem mais obras e foi beneficiado em relação aos outros concelhos. Mas, se analizarmos os contratos programa, verificamos que as novas obras estão orçamentadas em pouco mais de 400 mil euros. Os 2 milhões e 800 mil que estão contratualizados são para pagar obras feitas em anos anteriores”, destaca José Manuel Coelho.


Um concelho à margem

As perspectivas não são animadoras e os jovens são a face visível do desconforto. Muitos são os motivos para o desânimo. Desde logo, o desemprego, que, com a quebra acentuada na construção civil, tem deixado muitos perante a dúvida em relação ao futuro. Num concelho fortemente marcado pela emigração, as ilhas britânicas apresentam-se cada vez mais como uma alternativa para muitos.

“Os jovens vêem-se sem alternativas, também porque não existe formação que os permita reintegrar-se no mercado de trabalho”, afirma o dirigente concelhio da JS, Miguel Mão-Cheia.

O turismo, considerado como uma das alternativas mais válidas para criação de emprego, não consegue assumir esse papel de forma capaz. “Este concelho está a ficar para trás, relativamente ao papel que o turismo tem assumido em concelhos limítrofes”, lamenta.

O presidente da Junta de Freguesia da Ponta do Sol confia que a alteração do PDM poderá trazer benefícios para o concelho neste campo.

“A alteração ao PDM irá facilitar a aprovação de novos projectos e atrair mais empresas turísticas para o concelho”, afirma Juvenal Silva.

José Manuel Coelho é, neste aspecto, também uma das faces do desânimo. O deputado considera que o desenvolvimento tem passado pela Ponta do Sol, mas não pára, desloca-se mais para Oeste.

“Se pensarmos um pouco reparamos que todas ou a maior parte das infraestruturas que foram feitas, principalmente pela sociedade de desenvolvimento, na Ribeira brava e na Ponta do Sol, não resultaram. Mas todas as que foram realizadas na Calheta têm resultado e dado frutos”, verifica. O deputado não tem explicações para o fenómeno, mas avança com algumas possibilidades. “Se determinados grupos económicos tivessem interesses instalados na Ponta do Sol, penso que o concelho estaria diferente. Mas como não os há, vão para onde os têm”, considera.


Há motivos de orgulho

No concelho, nem todos se queixam dos novos tempos. Sandra Teixeira, a única madeirense à frente dos destinos de uma Junta de Freguesia, considera que o desenvolvimento apenas levou à Madalena do Mar aspectos positivos que são motivo de realce.

“As estruturas viárias encurtaram distâncias, a freguesia tem mais visitantes e a praia é mais frequentada, realçando-se o próprio movimento de pessoas que a promenade veio trazer”, justifica a presidente da junta. “Não se pode fazer muito mais, porque esta é uma freguesia pequena, sem espaço para poder expandir-se”, justifica.

Nos Canhas, António Vera Cruz reconhece dificuldades. Principalmente na construção civil, com quebras acentuadas que afectam sobretudo os jovens da freguesia, cuja maioria trabalhava neste sector. Mas o desenvolvimento trouxe motivos de orgulho.

“Penso que as obras feitas pelo GR têm contribuido para o desenvolvimento do concelho. Na minha freguesia, já temos desde creche até lar de terceira idade, centro de saúde, farmácia, agência bancária, multibanco. Resumindo, as infraestruturas base estão quase todas lançadas, mas penso que podemos ir melhorando no futuro”, congratula-se o presidente da Junta de Freguesia local. Neste momento, a prioridade passa pelo saneamento e o abastecimento de água potável. As obras já estão em fase de concretização.

Vera Cruz prefere não fazer grandes considerações acerca de investimentos que ficam fora da sua freguesia. Reconhece atributos ao parque empresarial dos Canhas, mas deixa de lado quaisquer comentários à marina. “Fica na freguesia de um colega meu, ele que se pronuncie sobre isso”, justifica.

O colega é Juvenal Silva, responsável pela Junta de Freguesia da Ponta do Sol. A análise é directa.

“A marina é benéfica para a Ponta do Sol. Mas todos nós sabemos que a obra não está ainda concluída. Quem fez a marina se calhar não se lembrou de fazer estudos mais aprofundados”, sintetiza.

Na elaboração deste trabalho não nos foi possível ouvir os presidentes da Câmara Municipal, Sociedade de Desenvolvimento da Ponta do Oeste e da Madeira Parques.



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População apenas quer Justiça

António Lobo, ex-presidente da autarquia pontassolense, acusado por alegadas práticas de corrupção e actualmente à espera de sentença, continua a suscitar as mais diversas reações no concelho.

“O que está a sair do caso Lobo é algo que a população, de uma forma ou de outra, já sabia. A diferença é que agora os factos estão a vir a público. Ouvia-se falar em atropelos à lei, mas nunca houve provas que o pudessem confirmar”, afirma Miguel Mão-Cheia, presidente da JS concelhia.

Lobo esteve durante muitos anos à frente da Câmara Municipal. Por isso, os populares dividem-se no sentimento em relação ao antigo autarca.

“Há ainda muita gente que manifesta sentimentos de amizade por António Lobo. Naturalmente que sentem-se muito revoltadas por algumas coisas que foram lançadas ao público, acham que houve prepotência em muitas situações”, afiança Juvenal Silva, antigo número dois da Junta de Freguesia da Ponta do Sol que entretanto assumiu a presidência, devido à morte de João Agostinho Lobo, na passada semana.

A população do concelho apenas quer justiça, seja ela qual for. Curiosamente, quem se tem escusado a comentar o caso, desde o seu início, são alguns dos maiores críticos à presidência de António Lobo. A razão é simples: o caso é uma questão de Justiça e ninguém quer ser acusado de aproveitamento político quando o ex-presidente atravessa uma fase menos boa da sua vida.


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Mais rigor e transparência na autarquia


A Câmara Municipal da Ponta do Sol mudou para melhor. Quem o afirma é José Manuel Coelho, o principal adversário de Rui Marques na disputa pela liderança camarária, nas autárquicas de Outubro de 2005.

“Melhorou principalmente ao nível do tratamento pessoal. Não diria que os métodos de trabalho tenham-se tornado mais ágeis, mas concedo que agora exista uma maior transparência, porque, neste momento, no que diz respeito ao licenciamento de obras, não existem poderes delegados e todos os processos seguem para as reuniões camarárias” salienta o vereador socialista.

O jovem presidente Rui Marques, com pouco mais de um ano à frente dos destinos da autarquia, já conseguiu marcar a diferença, principalmente quando o termo de comparação é António Lobo, o homem que o antecedeu no cargo.

“O actual presidente da Câmara Municipal não é uma pessoa que entra em choque com a oposição de forma directa e extemporânea. Já vi piores. Mas tem muito trabalho pela frente”, assinala Mão-Cheia, presidente dos jovens socialistas.

Na Ponta do Sol, todos concordam que o início do mandato de Rui Maruques causou algumas reservas. Aos poucos, garantem, a população foi-se acostumando a um novo «modus operandi» na autarquia.

“Nota-se a existência de maior rigor nos procedimentos e maior controle. Claro que que isto causa sempre um impacto negativo no início, enquanto as pessoas não estão habituadas. Agora começam a ver as coisas a andar, muitas situações ficaram desbloqueadas”, afiança Juvenal Silva, presidente da Junta de Freguesia local.

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