Monday, January 29, 2007

Uma bordadeira em Nova Iorque


Maria Ganança está hoje na feira de têxtil de Nova Iorque a bordar ao vivo.

in DN a 29-01-2007


Uma bordadeira em Nova Iorque

Aos 60 anos, depois de criar cinco irmãos, Maria Ganança é uma referência para os trabalhadores domiciliários



Despachada, emotiva, única. Maria Ganança, a mulher que hoje está a bordar na feira de têxtil de Nova Iorque, é um exemplo de luta e vontade. Aos 60 anos, referência do trabalho domiciliário, a bordadeira e agricultora da Lombada foi mais longe do que a sua história fazia prever.

"A Maria evoluiu muito". A pessoa que Guida Vieira conheceu em 1980 através de uma carta de leitor ao DIÁRIO mudou muito, evoluiu, fez por aprender e ultrapassar as insuficiências de quem só tem a 4ª classe. Ganhou jeito e, hoje, "é capaz de se sentar para negociar aumentos, sem qualquer problema".

Porque a senhora despachada, que não esconde o sotaque da Ponta do Sol, não é de se ficar. Por feitio, pela vida que teve. Maria Ganança nunca casou, mas teve a dura missão de tratar de uma casa, de uma família. "Perdeu a mãe muito jovem e teve que cuidar dos cinco irmãos". E a todos encaminhou. "O filho que a sobrinha teve há pouco tempo é como um neto para a Maria. Nem lhe passa pela cabeça que seja de outra maneira".

Educou uma família, investiu tempo e emoção nas lutas sindicais. No entanto, seria redutor achar que é só isso. "É também uma pessoa alegre, com quem dá gosto trabalhar", lembra a amiga e camarada do Sindicato dos Bordados. "E é uma aventura viajar com a Maria".

Guida Vieira e Maria Ganança já estiveram juntas em várias reuniões e congressos no estrangeiro. Umas vezes no âmbito da Organização Internacional de Trabalho, outras a propósito do artesanato e trabalho domiciliário. "Seja onde for, a Maria é sempre um êxito, mesmo sem falar inglês".

A coroa de glória da bordadeira foi um encontro de artesãos na Índia. Sem saber uma palavra de inglês, Maria Ganança estabeleceu contacto com as mulheres indianas, tornou-se amiga de algumas e até ficou a saber se eram casadas ou solteiras, com filhos ou sem filhos. "Foi muito divertido. As indianas adoptaram logo a Maria". A camarada do Sindicato dos Bordados não sabe como será com os americanos. "Ela avisou que ia desligar o telemóvel para não pagar as chamadas". No entanto, Guida Vieira acredita que voltará a fazer sucesso. "Seria muito atrevimento dizer que a Maria é conhecida em todo o Mundo, agora tenho a certeza que é uma referência internacional sempre que se fala de trabalho domiciliário".

Por ser alegre, desembaraçada, comunicativa e conhecer todos os pontos do bordado, o Sindicato indicou-a para acompanhar a delegação do Instituto do Vinho e do Bordado à feira de têxteis de Nova Iorque. O nome foi aceite, Maria Ganança, a mulher da Lombada, na Ponta do Sol, fez as malas para mostrar na grande cidade americana a sua arte. Que tanto gosta, pela qual tanto luta, tanto lutou.


Marta Caires

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